Estamos diante de um trabalho vigoroso, que expõe um percurso extenso realizado entre que envolveu análises e reflexões da avaliação diagnóstica e investigativa das práticas escolares. Tais análises são feitas através do desempenho coletado na Prova Campinas – 2010, dos alunos dos 4os anos da Rede Municipal de Campinas.
O percurso envolveu desde a realização de um curso de formação para os professores do Ciclo II da rede municipal de Campinas, até o levantamento por estes professores, em suas unidades escolares, de conjunto de fontes (tais como: livros didáticos, cadernos de alunos, projetos pedagógicos etc.), a elaboração de questões da prova e de seus gabaritos de correção, a própria correção da prova, o tratamento estatístico dos dados, a produção das análises e do relatório final.
A Prova Campinas, sob uma perspectiva de um projeto em continuidade, resultou de uma decisão da SME/Campinas, que optou, em 2005, pela construção de seu próprio processo de avaliação de desempenho dos alunos, o que culminou na numa 1ª aplicação da Prova em 2008. As provas que constituem esse projeto– tais como as de 2008 e 2010, até agora realizadas - não pretendem avaliar a capacidade individual de memorização de conteúdos disciplinares por parte dos alunos. Concentra-se na verificação de como os alunos lidam com diferentes configurações de textos que mobilizam as práticas escolares referentes aos conhecimentos envolvidos em diferentes contextos de atividade humana. As questões da Prova Campinas, de algum modo, mobilizam (isto é, fazem referência, tematizam, discutem, problematizam etc.) práticas semelhantes às que têm circulado em escolas da rede, ou então aquelas que efetivamente se realizam ou que foram realizadas em contextos extra-escolares de atividade humana.
Certamente muito tem se pesquisado, se falado e se investido em uma gama de dados provenientes de avaliações sobre as instituições escolares, seus alunos e seus professores; no entanto, a maior parte desses dados acaba não sendo utilizadapor aqueles que mais estão em condições de promover as devidas melhorias em âmbito escolar, ou seja: professores, especialistas, funcionários, alunos e/ou pais.
A PROVA CAMPINAS 2010, diferente da de 2008, não se restringiu às questões de Matemática e de Português. Envolveu um conjunto de questões amplas, tendo como base a necessidade de mobilização de toda a gama de conhecimentos pertinentes a essa etapa da vida escolar. Resultou do envolvimento colaborativo integral e efetivo de profissionais da Secretaria Municipal da Rede Municipal de Campinas, partindo de material representativo do trabalho desenvolvido pelos professores em sala de aula, em contraposição às avaliações de desempenho correntes no país, que em geral visam à classificação de estudantes ou à hierarquização das escolas, estando pautadas em conteúdos, competências ou habilidades.
O leitor terá diante de si um trabalho singular que procura explorar os resultados estatísticos obtidos pelos alunos da rede, e que com base nas várias composições destes resultados, tece considerações acerca dos conhecimentos mobilizados nos anos iniciais da rede municipal de Campinas.
Para a realização deste trabalho, o grupo de autores - Anna Regina Lanner de Moura, Antonio Miguel, Lilian Lopes Martin da Silva e Norma Sandra de Almeida Ferreira – optou pela definição de quatro descritores: usos da linguagem nos textos, usos da linguagem solicitados pelos comandos textuais, práticas referidas pelos comandos textuais e campos de atividade humana mobilizados nos jogos de cenas dos textos. Tal opção, por sua vez, oportunizou análises e ponderações acerca dos usos preponderantemente normativos da linguagem, dos usos preponderantemente alegóricos da linguagem e dos usos nem preponderantemente alegóricos e nem preponderantemente normativos da linguagem.
Portanto, acreditamos que esta publicação pode ser objeto de análise e de crítica e, neste sentido, é colocada à disposição dos professores, bem como pesquisadores e demais interessados, como uma das formas de refletir sobre o desenvolvimento das práticas escolares com crianças, olhando para a avaliação como um processo - e não como um resultado pontual - e também como um mecanismo de reflexão e conhecimento por parte dos professores sobre a realidade e o trabalho que realizam.
Juliana Maria Arruda Vieira - Professora SME/Campinas
Eliana da Silva Souza - Coordenadora Pedagógica SME/Campinas