Jogos de linguagem

A expressão jogos de linguagem foi criada pelo filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951), na segunda fase de seu pensamento, que se inicia com o seu retorno a Cambridge em 1929. O uso dessa expressão aparece, pela primeira vez, em anotações para cursos por ele ministrados nesta universidade nos anos letivos de 1933 e 1934, as quais foram postumamente publicadas em dois livros intitulados O Livro Azul (WITTGENSTEIN, 1992a)e O Livro Marrom (WITTGENSTEIN, 1992b). Wittgenstein só publicou uma única obra em vida: o Tractatus Logico-Philosophicus (WITTGENSTEIN, 2010), de 1922. Mas a sua obra mais conhecida, publicada postumamente, que nega grande parte das ideias desenvolvidas no Tractatus, dando-lhes uma nova orientação, são as Investigações Filosóficas (WITTGENSTEIN, 1979). Por essa razão, os comentadores da obra de Wittgenstein costumam dividir o seu pensamento em duas fases, respectivamente, aquela que antecede e a que sucede as Investigações Filosóficas. É nesta última obra que o filósofo desenvolve uma nova concepção de linguagem que não mais a vê como unitária, mas como um conjunto dinâmico, heterogêneo e mutável de jogos de linguagem, cada um deles sendo visto como uma linguagem completa. Ver a linguagem como um jogo é mais do que vê-la dinamicamente em seus múltiplos e diversificados usos; é também dizer que só podemos praticar a linguagem participando corporalmente desses jogos. Assim, o próprio jogo do falar uma língua pode ser visto como uma prática corporal em que vibramos as nossas cordas vocais com base em regras das quais não necessitamos estar previamente cientes. Propositalmente, Wittgenstein não definiu o que vem a ser um jogo de linguagem. Apenas apresentou deles inúmeros exemplos.  Sua filosofia é avessa a definições de qualquer natureza, uma vez que os significados nunca fixos de palavras, gestos, artefatos etc. só podem tornar-se manifestos, ainda que nem sempre possam ser determinados, nos diferentes usos que fazemos deles em nossos jogos de linguagem. Nada pode ser significado fora ou independentemente de um jogo de linguagem, e essa observação vale também para os usos que fazemos da própria expressão jogos de linguagem. Assim, para um melhor entendimento dos usos que fizemos da expressão jogos de linguagem na elaboração da Prova Campinas 2010, bem como no texto deste relatório, remetemos o leitor para o TEXTO DIALOGADO intitulado “Algumas ideias que orientaram a elaboração da Prova Campinas 2010”. Outro texto para o qual remetemos o leitor, pelo fato de narrar o processo de elaboração da Prova Campinas 2010, comparativamente à Prova Campinas 2008, pondo em evidência o modo como, nesse processo, nos apropriamos do pensamento de Wittgenstein, é (MIGUEL, 2015). Os leitores que se interessarem em conhecer melhor a vida e obra de Wittgenstein, bem como o contexto político e cultural em que sua obra se produz, poderão consultar as referências: (CONDÉ, 1998); (MONK, 1995); (JANIK & TOUMIN, 1991), (MORENO, 1993), (MORENO, 2000).