Usos alegóricos da linguagem

No contexto da PROVA CAMPINAS 2010, acordou-se que num texto - seja ele verbal, imagético ou híbrido – se faz usos da linguagem orientados por propósitos alegóricos ou, simplesmente, usos alegóricos da linguagem, sempre que a mobilização de temas, conteúdos, informações, enredo, figuras, objetos, pessoas, personagens, cenas, imagens, cores, legendas etc. é intencionalmente feita no textoatravés de recursos predominantemente figurativos, isto é, através das denominadas figuras de linguagem, dentre muitos outros recursos visuais e/ou sonoros análogos mobilizados no campo das artes em geral,tais como: metáfora, metonímia, prosopopeia, hipérbole, sinestesia, ironia, humor, ambiguidade, catacrese, perífrase, antítese, eufemismo, onomatopeia, aliteração, elipse, pleonasmo, polissíndeto, assíndeto, silepse, anáfora, rima etc. Com base nesse acordo relativo ao uso da expressão usos alegóricos da linguagem no contexto da prova, nem todo texto verbal, imagético ou híbrido foi visto como preponderantemente alegórico ou figurativo, ainda que, segundo as concepções de linguagem de alguns dos principais autores que nos orientaram – Ludwig Wittgenstein, Jacques Derrida e Friedrich Nietzsche –a produção da significação com base no uso de qualquer tipo de linguagem seja sempre analógico, isto é, comparativo-remissivo, ou ainda, ficcional. Para Wittgenstein, por exemplo, o significado de algo não está nesse algo, não constitui uma essência fixa e imutável, mas só pode ser constituído com base nos usos que fazemos desse algo em um jogo situado de linguagem. Para ele, todo processo de significação só pode ser feito por semelhanças de família, entre dois ou mais JOGOS DE LINGUAGEM, uma vez que, sendo cada jogo de linguagem um jogo, e não podendo haver um elo significativo que seja comum a todos os jogos de maneira que possamos definir o que seja um jogo, a significação só pode ocorrer por semelhanças ou analogias(WITTGENSTEIN, 1979). Derrida, por sua vez, nem fala propriamente em significado ou significação, mas apenas em rastros ou jogos de rastros, para destacar o fato de que os processos de produção de significado são sempre remissivos, analógicos e ilimitados (DERRIDA, 1975); (DERRIDA, 2005); (DERRIDA, 2009); (DUQUE-ESTRADA, 2008). Já Nietzsche, também rompendo com toda concepção essencialista da significação, a vê sempre como um processo ficcional, não podendo, para ele, a ficção ser vista comonão-real, mas sim, como o recurso analógico, o “como se”, o “faz de conta que”que movimenta todo processo de significação (NIETZSCHE, 2008). Foi por essa razão que não incluímos a analogia, a comparação ou a similitude como figuras de linguagem, pois se o fizéssemos, estaríamos borrando toda a distinção que fizemos no contexto da PROVA CAMPINAS 2010– e também vista por nós como necessária em muitos outros contextos e para muitos outros propósitos sociais – entre usosalegóricos da linguagem, USOS NORMATIVOS DA LINGUAGEM e USOS NEM ALEGÓRICOS E NEM NORMATIVOS DE LINGUAGEM. Consultando o QUADRO G, o leitor poderá verificar como cada um dos textos da PROVA CAMPINAS 2010, bem como cada um dos itens dos comandos verbais a eles referentes foram incluídos em uma dessas três categorias. O leitor deve também atentar-se para o fato de que mesmo quando identificamos um texto como fazendo um determinado uso preponderante da linguagem (normativo, alegórico ou nem/nem), isso não impede que certos comandos verbais referentes a esse texto possam ser identificados como diferentes daquele do próprio texto.